sábado, julho 28, 2007

Rotina

Telejornais dizem agora que o Brasil vai fazer um MUTIRÃO de medalhas pra encerrar o Pan na frente de Cuba. Mostram gráficos de quantas o Brasil pode ganhar e Cuba também.

Então eu me pergunto PRA QUE TUDO ISSO. Pra que o Brasil PRECISA ter mais medalhas que outro país? Pra que essa necessidade ridícula de ser melhor em tudo quando a gente não consegue, na verdade, ser melhor em nada?

Para que vaiar as pessoas de outros países que as vezes tem tantas dificuldades pra treinar como os próprios brasileiros, que recebem bolsas-auxílio vergonhas como os R$ 600 que o medalha de ouro do taiquendô ganha?

Na verdade, minha inconformidade vai mais além: pra que lotar estádio e gritar que tem orgulho de ser brasileiro se todo o resto fora daquele lugar está desmorando? Pra que fingir que o orgulho brasileiro se resume a um lugar no pódio quando a gente nem sabe cantar direito o Hino Nacional?

Nós temos um ponto de interrogação no nosso céu como se fosse o símbolo do Batman. Nós temos pessoas que governam tão perdidas quanto nós. Nós temos um buraco em um prédio ao lado do aeroporto e 199 pessoas pra identificar. Nós temos pessoas que quase se divertem jogando a culpa uns nos outros. Nós temos centenas de pessoas que perderam a razão de viver no último dia 17.

Nós temos todo um Complexo do Alemão esperando o Pan acabar para explodir. Nós temos um senador que, na surdina, comemora o espaço da tragédia nos jornais enquanto seus bois ficam em segundo plano.

Nós temos um presidente que faz cirurgia de tersol no dia 18 e fica em repouso durante o dia, se recuperando; que demora três dias pra se manifestar. Que tem apoio popular e um dia já teve o meu, mas mostrou que não sabe ser um CHEFE DE ESTADO, chutar o pau da barraca e mandar todo mundo embora, aparecer na TV, visitar os escombros e se lamentar de verdade ao invés de se preocupar com o impacto do acidente para a própria imagem.

Precisamos de um LÍDER, não de um Narciso.

Aos 26 anos, definitivamente, perdi o orgulho de ser brasileira. Hoje, somente nasci no Brasil. Tenho orgulho de outras coisas, tenho orgulho dos meus pais, dos meus amigos, daquilo que eu estou, pouco a pouco, construindo. Tenho orgulho de quem eu amo e está do meu lado, tenho orgulho de algumas pessoas que são a exceção.

Tenho orgulho das pessoas que não se corrompem e que não acham que SEMPRE podem ser mais espertos que os outros, desde furar fila a roubar milhões da previdência. Porque, sim, elas existem e estão em toda parte. Mas são ofuscadas, por outras pessoas e por grandes explosões.

Vamos aguardar as próximas medalhas, o próximo acidente aéreo, a próxima eleição. Vamos falar desses assuntos até a exaustão. Até cansarmos, voltarmos pra casa e voltar a esquecer.

Essa é a nossa rotina.

domingo, julho 08, 2007

É preciso beber água sanitária para lavar a alma


Estava agora há pouco conversando com um amigo sobre a vida, o que se anda fazendo, essas coisas de gente que não conversa há meses. Entre falar de hoje e lembrar das asneiras do passado, começamos a falar do futuro. Mas não daqui a um, dois anos.

Daqui a 40, 50, 60 anos.

Falamos sobre a desistência prévia de qualquer plástica ou uso de botox.

Falei sobre a minha vontade de viver no meio do mato, com quantidades enormes de histórias pra contar. De fazer bolo e tricô e ter netos.

De ser aquela velha que acorda as 5 da manhã e na hora do Jornal Nacional já está dormindo em frente à TV.

No fundo, eu quero ter uma vida boa pra me lembrar e ter alguém do lado que passou por tudo junto comigo.

E morrer dormindo, lúcida e aos 93 anos.