Não imagine que te quero mal, apenas não te quero mais
Ontem foi o nosso último beijo. Pelo menos por enquanto.
E no lugar daquela sangria desatada inevitável de toda vez que ele aparecia na minha frente, depois dessa noite descobri que a numeróloga (sim, eu já fui em uma) estava certa:
Ele sempre vai fazer parte da minha vida.
Sempre que eu menos esperar ele vai estar ali, pra beijar a cicatriz no meu pescoço que eu odeio, pra dizer que meu ex é um babaca por ter me deixado pelo motivo que foi e pra dizer que eu vou esquecê-lo de vez, além de me chamar de delicinha, mesmo que isso não nos leve a nada.
Pra discutir filosofia, destino, política e reencarnação.
Tentar entender por que é tão difícil encontrar alguém que se goste de verdade no meio de tanto beijo na boca.
Então ontem nos beijamos. Bom como sempre. No mesmo lugar onde aconteceu o primeiro.
15 de novembro de 2003.
E ontem também, por motivos nossos, só nossos, ganhei um amigo de verdade.
O amigo que guardou um segredo e que acredita que eu tenho que resolver um impasse na minha vida de doze anos atrás.
O amigo que me encontrou hoje na minha melhor balada em Pinda EVER, me jogou pra cima, fez festa e entendeu, depois de um olhar de um segundo que demorou meses de história, que é melhor cessar.
Cessar-fogo.
Parar não é a palavra, afinal ele entra e sai da minha vida sem pedir licença e trancar a porta seria pedir pra ele voltar na base do chute, um dia.
A vida é tão esquisita, e por isso não encantadora.
Por razões que, de novo, são só nossas, nunca poderíamos ser “nós dois”. Nunca fui apaixonada por ele, nem ele por mim. Tivemos momentos ótimos, noites que eu gosto de lembrar.
É uma história que nunca vai acabar no escuro.
Adormeceremos tudo, então.
Pelo menos até a página dois.