Sobre flores e vinhos ou
OOOOOOOOOOOOw Power!
Ás vezes é estranho pensar que um dia eu já tive quinze anos e queria crescer logo. Virar gente grande logo de uma vez.
Quando eu tinha quinze anos as minhas grandes preocupações na vida eram passar de ano e minha mãe deixar eu sair no fim-de-semana para ver todos aqueles pseudo-amores que eu tinha.
Mas o melhor de quando eu tinha quinze anos era uma “sociedade secreta” que eu tinha com outras quatro amigas. Com regras muito bem definidas, códigos de ética e o caramba, as “Powers” tinham grito de guerra, dia da semana para reuniões e muito, muito vinho.
Eu, magrela, loira e cheia de espinhas. Junto comigo, a Agnes, a Vanessa, a Kelly e a Sabrina.
Toda sexta-feira a gente ia pra casa da Sabrina, num condomínio fechado lá de Pinda. A gente saía gritando pelas ruas e ia pra um lago que tinha lá com uma garrafa de coca-cola cheia de vinho Sangue-de-Boi que a gente pegava do tio Werner. Ficava todo mundo doida, rolando na grama e fazendo altas confidências que todo mundo jurava nunca ter existido no dia seguinte.
Lembro de uma vez que eu e a Agnes quebramos o pau feio por lá. Juro por Deus que eu não lembro o motivo, mas devia ser alguma coisa bem besta. Lembro que a gente tinha como regra nunca ficar com um cara que a outra estivesse interessada, apaixonada, um ex, qualquer coisa assim, a não ser que a outra autorizasse. Tinha um cara que eu gostava que vivia dando em cima da Sabrina (filha de alemães, linda) e ela vivia dando o fora nele. Ela dizia que não queria saber mesmo que eu não existisse, mas eu sei que ela até que tinha vontade. Teve três irmãos amigos nossos que passaram nas mãos de nós cinco. Era engraçado contar depois. Aliás, naquela época não era o que a gente fazia que era bom. Era contar pra elas depois.
E a gente aprontava muito. Acho que não existe um único cara em Pinda que não tenha passado pelas mãos de uma de nós cinco. Alguns foram ninjas como os amigos citados acima, mas também tiveram outros que namoraram duas, ficaram com três, falta de individualidade era a lei em 1996.
Aí um belo dia e por algum motivo idiota, certamente, a gente decidiu parar tudo. Parece que tinha sido uma intriga entre a Vanessa e a Sabrina, vai saber. A gente resolveu parar e, aos poucos, a gente foi se distanciando. Foi o fim das Powers no começo de 97.
A Vanessa, que tinha o singelo apelido de Camarão, continuou sendo minha melhor amiga por muito tempo, mas, sem nenhuma razão aparente, parou de falar comigo, atravessava a rua pra não cruzar comigo, foi grossa quando liguei pra desejar feliz ano novo. O pouco que eu sei dela eu sei por outras pessoas, mas sinto muito a falta dela até hoje. A gente se conheceu quando tínhamos dez anos só, crescemos juntas, uma foi a primeira a saber muita coisa sobre a outra, quase que em tempo real. Ela sabia de tudo, a opinião dela era a mais importante. O ombro dela foi o melhor durante muito tempo.
A Kelly continua uma figura, quando nos encontramos é aquele escândalo de sempre. Ela sempre foi a mais meiguinha de todas, a pacificadora quando rolava briga, a gargalhada mais espalhafatosa de Pindamonhangaba, uma das maiores pegadoras que eu conheci. A dona da saia que eu destruí no ferro de passar.
A Agnes cedia a casa dela pra torcida do Flamengo dormir de sexta pra sábado, de sábado pra domingo. É minha amiga até hoje. Ficamos anos sem nos falar, aconteceu um monte de coisa nesse meio tempo mas descobrimos que tempo é besteira quando se trata de amizade. Ela casou, tem uma filha linda e sempre lê essa bagaça aqui. E é linda. E fala francês. E é enorme.
A Sabrina, que sempre teve fama de burra (ela dizia pérolas pra chocar até o mais descolado do universo), é sub-gerente de um hotel fodão e não mudou quase nada. Perdi o contato com ela.
Enfim, as Powers (aliás, porque Powers meu Deus, POR QUE?) seguiram caminhos totalmente diferentes. Como todas as coisas boas da vida, ficaram só na saudade. Acho que não tem como ser diferente. Saudade do tempo em que tudo era mais fácil, mas o tempo voa e a gente tem que continuar pra não ser atropelado.
Afinal a vida é bela, a flor é amarela, a gente que estraga ela ®.