quinta-feira, abril 28, 2005

Sim, eu tive

Medo.

E câncer.

Aquela palavrinha que ninguém quer falar pra não atrair.

Não, não fiz quimioterapia, não fiquei careca. Tive a sorte de ter tido o câncer mais simples que existe para ser tratado, com maior percentual de cura, perto dos 100%.

Na tireóide. O máximo que me aconteceu foi ficar RADIOATIVA por um fim de semana, isolada em um quarto com paredes de chumbo. Mas poxa, tinha TV a Cabo.

Mas, momentos Pollyana à parte, eu tive mas não sei o que é ter. Descobri que tive câncer quando ele já tinha ido embora. Fiz uma cirurgia que pra mim era meramente estética e me livrei de um transtorno muito maior.

Não, não foi nenhuma experiência transcendental, não vi nenhuma luz e não decidi virar monge budista.

Continuo o mesma, porém com uma cicatriz que parece um sorriso sarcástico, um sobrinho e um novo cachorro que late como se fosse um patinho de borracha.

Continuo cometendo os mesmos erros, sentindo saudades das mesmas pessoas, fazendo os planos mais absurdos possíveis, como sempre.

Ainda tenho as mesmas certezas, as mesmas inconformidades, o mesmo amor que fere mas tem a capacidade de me salvar e me fazer voltar a respirar.

Estudando alemão pra trocar uma idéia com o Papa Chico Bento e fazendo pós-graduação.

Bom voltar pra sala de aula, viu?

Mas algumas coisas mudaram.

De repente eu percebi (todo mundo acha que já sabe, mas não) que a vida é tão curta e todo mundo é tão frágil e a gente perde tempo com tanta besteira que as coisas deixam de fazer sentido.

Não estive à beira da morte mas entendi que a vida acontece agora. Amanhã não consta. Ninguém vai acordar um belo dia e dizer "hoje é o futuro que eu passei a vida planejando".

Estou aprendendo a não me levar tanto a sério, a encarar qualquer situação como se fosse a minha última chance de ser feliz. Sim, eu já fui assim.

Altos de baixos fazem parte da vida de todo mundo. Todo mundo se decepciona, todo mundo se dá bem, todo mundo em algum momento sacaneia outra pessoa, todo mundo em algum momento se sacrifica também.

Imprevisibilidade é peça-chave para a plenitude.

Um dia eu, você, todo mundo vai ficar velho (e só tem um jeito de isso não acontecer) e eu não quero lembrar dos meus vinte e poucos anos como a época em que eu deixei as oportunidades passarem, que eu podia ter sido muita coisa e não fui.

Sempre, sempre, fiz todo o possível pra que as coisas na minha vida dessem certo. As vezes rolava, as vezes não. Mas saber que não há vácuos na sua história, algo que tenha ficado por dizer, uma falta de atitude que poderia ter mudado toda a sua história deve ser péssimo.

(E tem alguma coisa mais importante do que a SUA história?)

Ninguém envelhece feliz abraçado a um diploma, a uma casa, a um carro. A gente é feliz a vida inteira quando tem pessoas por perto que se preocupam, grandes e amados amigos, uma família sensacional.

Pessoas por quem vale a pena estar bem. E fico feliz por elas existiram EM BANDOS na minha vida.

Eu não sei o que é correr risco de vida, mas agora já tenho uma palavrinha maligna no meu dicionário.

Espero que isso sirva pra alguma coisa.

sexta-feira, abril 22, 2005

INCONCEBÍVEL.

domingo, abril 03, 2005

E quem disse que ia ser fácil?