terça-feira, fevereiro 22, 2005

Não me esqueça por tão pouco

Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho
Como um conde falando aos passarinhos
Como uma Bumba-Meu-Boi sem capitão

E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o rumo e desatina
Como um boi no meio da multidão

Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinho
Cruzei ruas, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contramão

Pelo canto da boca num sussurro
Fiz um canto demente, absurdo
O lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão

Solidão.



Eu falei absolutamente tudo.

Palavras soltas, eu te amo, não é justo. Que ele foi o melhor, o único, tudo.

Acho que ele é o único homem que sabe exatamente como eu sou. Que me viu completamente exposta e entregue.

Eu me joguei porque eu achei que ele estaria lá pra me segurar. Fui feliz demais em um tempo curto demais.

Passei os melhores dias da minha vida ao lado dele. Onde tudo, tudo, tudo foi perfeito e eu queria frear o tempo mas ele não parou.

Descobri como é ser querida por alguém. Ter alguém preocupado, cuidando de mim e querendo saber o que eu tomei de café da manhã, se eu durmo direito e como eu dirijo na estrada.

Cuidei dele, da pressão baixa e chamei um chaveiro quando ele esqueceu as chaves de casa, mesmo sendo em uma cidade que eu não conheci. Fiquei apreensiva em casa apresentação de mestrado, ansiei por notícias como se elas fossem minhas.

Contei minutos pra tão poucos reencontros. E quando eles aconteciam eu sentia que valia a pena.

Me apaixonei de novo e não tive medo de ser ridícula e não me assusto por ter dito tanta coisa, ter tentado faze-lo mudar de idéia.

Mas ele não mudou. Ele foi embora.

Não aconteceu nada de errado e mesmo assim deu errado.

Fiz o possível pra ser a pessoa ideal pra ele porque ele era pra mim. Fui cuidadosa, atenciosa, carinhosa. Não deixei que ele visse o medo que me dava às vezes, a insegurança.

Mas ele foi embora mesmo assim.

Alegando motivos que passavam longe de mim. E por estarem tão longe eu não consegui altera-los.

Ouvi que fui correspondida, que eu fui a garota ideal, mas existem prioridades.

E sempre são outras que não sou eu.

E dói tanto, tanto.

Porque eu tentei tanto e agora eu estou sozinha. E essa tristeza eu tenho a impressão de que não vai passar nunca. Mas vai passar.

E eu choro de saudade, de frustração, por tanta coisa boa que poderia acontecer e não vai.

Nunca saberemos quem estava certo: ele com um pessimismo de que invariavelmente as coisas iriam dar errado, ou eu, com um otimismo desesperador de que a gente poderia pelo menos tentar.

A gente nunca vai saber. E isso dói demais.