Minha casa nova é linda e meu risoto de espinafre é maravilhoso. O silêncio e a vista do apartamento me deixam feliz. Não posso abrir uma das portas do meu guarda-roupas senão ele cai. Ainda preciso de um edredon vermelho.
Controlar a grana, economizar mais do que nunca, desligar todas as luzes, ler muito. Em armário cheio de livros ótimos que eu nem sabia que existiam esperando por mim.
Eu poderia conseguir uma bolsa de pós-graduação, não? Aquele novo moço de olhos azuis poderia me dar bola. Uma semana que eu o vi pela última vez e aqueles olhos na minha mente. Olhos, boca, os cabelos, a barba. Imaginação daquela barba no meu pescoço. Adoro barba, quando já está grande, porque no dia seguinte eu prefiro um porco-espinho.
Débora, minha colega de apartamento, é uma pessoa ótima, divertida, também é jornalista e gosta de Cartola. Trabalha numa revista e, poxa, eu também queria trabalhar numa. Ela tem o meu tamanho e o móvel que eu trouxe na mudança que a deixou mais feliz foi uma escadinha de três degraus, pra gente poder alcançar as partes mais altas dos armários da cozinha.
Vou cortar meu cabelo, mas só quando houverem reais disponíveis para tal. em breve terei novamente telefone; internet e TV a Cabo, ninguém sabe. Regalias que o proletariado não pode conquistar imediatamente, sabe como é.