domingo, fevereiro 29, 2004

Aos quase vinte e três ou Perdendo dentes

A parte chata de você estar envelhecendo, amadurecendo - que seja - é que a cada ano aparecem mais coisas que você quer fazer de tudo pra esquecer.

Claro que tem as coisas boas, mas as brigas que a gente nunca esquece são sempre aquelas que a gente perdeu.

sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Ontem rolou uma manifestação na rua Augusta (dos bingos e tal) e pra chegar na Alameda Santos pra encontrar a Fran eu tive que dar uma volta gigante e subir pela Bela Cintra. (Entendeu? Não? Então foda-se).

Daí eu passei na Alameda Tietê. Na frente de onde era O Pirata.

O Pirata foi, sem dúvida, o melhor bar de São Paulo. Ficava num porãozinho escondido em uma galeria, onde todo mundo se conhecia. Quer dizer: Acho que ninguém se reconheceria na rua numa tarde de sol, dado o GRAU etílico de quem frequentava o local.

Era sempre a mesma banda que tocava. E eles tocavam - ahn - BALÃO MÁGICO. Isso lá prumas 3 da manhã. Uma vez o Zé (grande Zé, todas as pessoas do mundo deveriam conhecer o Zé) quase me matou quando me deu rum FLAMBADO pra beber. Com gotas de café. Na semana seguinte foi meu irmão que chorou após a delicada mistura.

O dia de maior lotação foi a minha festa de aniversário. Ninguém entrava, ninguém saía. Foi coisa de mestre. Tequila e champagne na faixa por conta dos donos do bar, pra sentir o NAIPE. Noite que eu comecei a me envolver com uma pessoa que respondia pelo apelido de TOTÓ. Todo mundo se pegou aquela noite.

No final das contas, os caras da galeria fizeram um showzinho e conseguiram fechar o Pirata. Uma dúzia de amigos meus ficaram órfãos de bar. Até hoje rola um "que saudade do BAR" em conversas, escassas por sinal.

Ando muito nostálgica ultimamente. Vou ali tomar uma tequila em qualquer lugar e afogar minhas frustrações enquanto mulher SÓ e qualquer hora eu volto. Sei lá.

Faz-de-conta

Não respondo teus e-mails, e quando respondo sou ríspido, distante, mantenho-me alheio: faz-de-conta que eu te odeio.

Te encho de palavras carinhosas, não economizo elogios, me surpreendo de tanto afeto que consigo inventar, sou uma atriz, sou do ramo: faz-de-conta que te amo.

Estou sempre olhando pro relógio, sempre enaltecendo os planos que eu tinha e que os outros boicotaram, sempre reclamando que os outros fazem tudo errado: faz-de-conta que dou conta do recado.

Debocho de festas e de roupas glamurosas, não entendo como é que alguém consegue dormir tarde todas as noites, convidados permanentes para baladas na área vip do inferno: faz-de-conta que não quero.

Choro ao assistir o telejornal, lamento a dor dos outros e passo noites em claro tentando entender corrupções, descasos, tudo o que demonstra o quanto foi desperdiçado meu voto: faz-de-conta que me importo.

Jogo uma perna pro alto, a outra pro lado, faço cara de gostosa, os cabelos escorridos na rosto, me retorço, gemo, sussurro, grito e poso: faz-de-conta que eu gozo.

Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto: faz-de-conta que não sofro.

Cito Aristóteles e Platão, aplaudo ferros retorcidos em galerias de arte, leio poesia concreta, compro telas abstratas, fico fascinada com um arranjo techno para uma música clássica e assisto sem legenda o mais recente filme romeno: faz-de-conta que eu entendo.

Tenho todos os ingredientes para um sanduíche inesquecível, a porta da geladeira está lotada de imãs de tele-entrega, mantenho um bar razoavelmente abastecido, um pouco de sal e pimenta na despensa e o fogão tem oito anos mas parece zerinho: faz-de-conta que eu cozinho.

Bem-vindo à Disney, o mundo da fantasia, qual é o seu papel? Você pode ser um fantasma que atravessa paredes, ser anão ou ser gigante, um menino prodígio que decorou bem o texto, a criança ingênua que confiou na bruxa, uma sex symbol a espera do seu cowboy: faz-de-conta que não dói.

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

Pra ele eu sou uma referência de pessoa vencedora.

Uma garota que corre atrás do que quer. Que tem o emprego que sempre quis porque correu atrás dele. Natural conseguir.

Que é um exemplo no que se refere a não ouvir a opinião alheia. Sigo minhas próprias vontades e só considero idéias de pessoas que eu sei que realmente me amam.

Além disso, ele diz que sou uma mulher bonita. Que não tem como não desejar. Meu beijo, segundo ele, é um dos melhores que ele já provou. Consigo tirar um cara do sério em 5 segundos de contato físico, seja ele qual for. Com ele, uma distância de dois metros numa pista de dança já foi o suficiente.

Inteligente, bem-humorada. Uma grande amiga, sempre disposta a ouvir e dar conselhos.

Pra ele, eu sou a garota perfeita.

Mas foi esse mesmo cara que deixou de me procurar no final do ano passado, me deixou mal, desencadeando a maior sequencia de relações auto-destrutivas da minha vida.

E agora arranjou uma namorada e ele está completamente nas mãos dela.

...

Vencedora. Eu sou uma vencedora. E tudo isso que eu escrevi aí em cima.

É chato perceber que sua própria vida é cheia de piadas prontas.

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

Porque é divertido morar no Brasil:

Carnaval só é apreciado por 41% dos brasileiros


Agência Estado

O Rei Momo não é tão popular quanto se imaginava. Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e Instituto Sensus demonstrou que somente 41,2% dos brasileiros gostam de carnaval, enquanto 57,4% não querem nem ouvir falar no assunto. Realizado entre os dias 4 e 6, o levantamento ouviu 2 mil pessoas, em 195 municípios.


...

Como eu suspeitava.

terça-feira, fevereiro 24, 2004

1) Odeio carnaval.

2) Hoje um amigo querido, sumido a muito tempo, deu as caras novamente via internet. Coisas assim me fazem feliz.

3) Odeio carnaval.

4) Mas independente de achar essa alegria coletiva e obrigatória a coisa mais imbecil da face da terra, ainda acontecem coisas extremamente divertidas nas manhãs chuvosas de terças-feiras de "folia".

5) Mesmo assim, odeio carnaval.

segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é

Ela aprendeu a ficar em silêncio e em silêncio ela está a quase um mês.

Ela parou de falar para os outros sobre a ausência que ainda dói. Ausência de quem passou tão rápido mas faz tanta falta. E é tão difícil. É difícil ficar longe, é difícil ter que esquecer, é difícil fingir que esqueceu. E difícil aprender a lidar com o "nunca mais".

Então ela toca a vida dela pra frente, com seu novo trabalho e tantas coisas pra aprender e sua academia e seus planos de pós-graduação e trocar de carro e viajar e planejar sua festa de aniversário. Ter alguém interessado nela.

E todo mundo continua achando que ela é forte, porque ela atropela os problemas e está ali, firme no lugar que ela sempre quis. Nada é capaz de atingí-la, porque ela está sempre bem-humorada e ajuda as pessoas e está cada vez melhor, a barriginha sumiu, o cabelo está cada vez melhor, o sorriso continua fácil e real.

Só que ela continua sozinha e agora mais sozinha ainda porque ela já sabe.

E ninguém sabe que ela ainda chora antes de dormir. Que ela tem saudade e isso faz com que tudo o que ela viveu seja um pouquinho presente. Ninguém está por perto quando a ausência tenta furar seu peito e fazê-la enlouquecer e voltar atrás.

Ela aprendeu a ficar em silêncio. Ninguém ensinou, mas ela acha que é o certo.

Mas quando chega a noite e ela pode tirar a máscara, o vazio é a sua única companhia na hora de dormir.

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Frase da semana

"Ah Carol, vamos almoçar então no Mc Donald's que é mais calórico e bem mais barato, já que eu ainda estou pagando pelos meus peitos"

(Da minha amiga Fran, que deve ter ficado o máximo depois do silicone, já que, além daquela bundona agora ela tem os peitões também)

Estar salva não é estar feliz

Ninguém sabe mas eu fiz uma troca. E não tem um dia que eu me sinta aliviada por tê-la feito e ao mesmo tempo amargurada por ter tido que ser assim.

Eu já sabia que as coisas iam terminar e seria eu a ter que dar um fim nessa história. A nossa história. Que o final estava na minha frente embora eu tentasse esconder de mim mesma que não ia dar certo.

E no auge do medo e do desespero de pensar em ficar sem você aconteceu o que eu queria tanto.

A chance do emprego. Aquele que eu quis minha vida inteira.

Então, na noite de sábado, na véspera do fim, eu fiz uma troca.

Eu disse que aceitaria perder você se eu conseguisse o trabalho.

E assim aconteceu.

Eu sei que aconteceria de qualquer jeito. Eu nunca fui mulher de malandro, eu não me permito que me deixem sofrer por mais que eu ame, que eu goste. Eu aprendi a me colocar na frente dos outros e foi o que eu fiz.

Tenho certeza absoluta de que se eu não tivesse acabado com tudo ainda estaríamos juntos. Talvez você até estivesse perto de mim aqui, agora. Mas naquela vida, naquela rotina de machucar e assoprar. Tem horas que gostar não basta. E você tem que passar por cima de um sentimento pra conseguir andar pra frente.

Mas não adianta. Não adianta porque eu sinto muito a sua falta. Porque tem horas que eu acho que eu vou pirar porque a tua presença me cerca, tua voz gostosa e baixinha volta a sussurrar no meu ouvido o que você sabe que eu gosto de ouvir. Porque todos os dias eu ainda tenho certeza de que eu amo você.

Mas custa caro amar você. E eu não posso e eu não quero pagar esse preço. Quero gastar meu tempo, meus dias e meus pensamentos com coisas que me façam feliz. E por mais que você seja único, que seja fácil viajar até o momento que eu te beijei pela primeira vez e eu tenha desejado com todas as minhas forças que as coisas tivessem sido diferentes, eu sei que feliz você nunca seria capaz de me fazer.

O tempo é a oitava maravilha do mundo. E ele vai continuar me mostrando que agir com a razão, às vezes e mesmo que te dilacere em pequenas frações de segundos, é a única salvação.

Pra mim foi.

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Esquindô, esquindô

Curta e grossa:

Eu gostaria de virar índio nesse carnaval.

terça-feira, fevereiro 17, 2004



My spirit's sleeping somewhere cold until you find it there and lead it back home


segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Ana Carolina vai toda contentinha fazer exame admissional nessa segunda-feira de manhã.

Ela fica lá esperando a vez dela de fazer o exame comendo balinhas de café e vendo um desenhinho japonês não identificado: é tudo a mesma coisa mesmo.

Chamam Ana Carolina pra fazer o exame e quando ela entra na salinha 1 ela quase cai pra trás.

É praticamente o BENÍCIO DEL TORO de jaleco branco esperando Ana Carolina pra fazer o exame. Ana Carolina gagueja, ri, ela é uma pateta.

O médico com cara de Benício é uma simpatia. Faz brincadeiras, conta que o irmão também é jornalista, fala que Ana Carolina precisa tomar menos café afinal Ana Carolina tem gastrite e isso pode ferrar ainda mais o estômago da menina babona.

Aí ele pergunta se Ana Carolina tem varizes e Ana Carolina diz que tem. Ele olha com uma cara de incrédulo e diz "Você, meu bem, não pode ter varizes".

Casa, comida, roupa lavada e sexo selvagem duas vezes por dia. Com uma rapidinha no meio.

Quando ele olha as tais varizes, o médico com cara de Benício Del Toro explica que isso é porque a pele da Ana Carolina é muito clarinha. Ana Carolina não tem varizes.

- Mais alguma pergunta? - diz o médico gatão.

- Sim. Você é casado?

Isso não foi uma manifestação silenciosa da mente da Ana Carolina. Ela falou de verdade. Saiu sem ensaio. Simplesmente ela falou e em seguida ela teve vontade de enfiar um cotonete no olho e sair gritando pelo consultório. Ana Carolina sem ter onde enfiar a cara.

- Sou divorciado. E gosto de mulheres de pele bem branquinha.

Nocaute.

Ana Carolina não presta. E pena que a fila lá fora era enorme.

sábado, fevereiro 14, 2004

Essa noite eu sonhei com a Camila.

A Camila era minha amiga na época do colegial. Um barato de menina, linda e muito inteligente, falava em voz alto coisas desconexas e me passava as respostas das provas de matemática e química que, pasme, ela sabia de verdade!

Ela entrou na escola no mesmo ano que eu, bombou no colegial técnico de prótese e foi praquele colégio estadual. Uma pinta de fresca (como eu), tanto que demoramos um semestre pra começarmos a nos entender.

Todos os caras da nossa sala babavam por ela mas parece que ela nem se ligava. Estava sempre rindo pra todo mundo e, às vezes, saía de órbita e passava aulas inteiras olhando pro teto ou com a cabeça encostada na muretinha da sala de aula. Todo mundo queria ficar com ela e ela, com aquela pele clarinha e o sotaque de Barbacena, sonhava com o dia que o cara que ela gostava voltaria pra Pinda por causa dela. Ele nunca mais voltou, e o olhar dela ficava cada vez mais longe toda segunda-feira, após um fim-de-semana inteiro de espera. Foram tantos que perdi a conta. Com certeza, ela não.

Ela tinha um senso de humor incrível. Me ligava no meio da tarde pra me contar uma história engraçada que tinha lembrado. Tirava sarro de mim, da Cris e da Elô na cara dura, e adorava se zoar. Não gostava no excesso de pintas que tinha, vai vendo. Quando alguém pedia o telefone dela, ela às vezes dava e, quando voltava pra perto da gente, soltava um lesado "tá doido". Como era mais velha, era ela que comprava todas as bebidas nas festas que a gente ia.

Junto com ela eu descobri os poderes destrutivos do fogo paulista e dividia os mesmos caras nas baladinhas da vida. Eu achava bonito, ela também, fechou: o cara se sentia um rei.


Camila e eu no último dia de aula do terceiro colegial: a festa estava apenas começando


Mas a Camila era, antes de mais nada, minha amiga. Que me escutava quando os maiores problemas da minha vida era ver o peão de rodeios que eu amava (sim, eu já fiz isso) e quando eu queria pular o muro da escola pra voltar pra casa pra dormir. Foi ela a primeira a me procurar naquela semana maldita em que eu parei de ir à escola. Foi ela que gritou comigo dizendo que eu precisa parar com aquilo, de sofrer e só querer dormir.

Era ela que estava todos os dias, às 10 pras 7 da manhã, na porta da minha casa, pra me obrigar a ir pra escola junto com ela. Ela não fez nada sozinha, mas ela me ajudou a me levantar quando eu achei que a minha vida estava perdida. E sempre me dizia que "a gente ia superar", me dando a certeza de que ela estava ali, comigo, sempre que eu precisasse.

Quando eu me mudei pra São Paulo ela me ligava na quinta-feira pra saber se eu estaria em Pìnda no final de semana. Eu sempre estava e nada mudava entre a gente, todo sábado a gente saía, arranjava alguma coisa sem-noção pra fazer. Ela foi minha primeira amiga conhecida a se prejudicar com o novo Código Nacional de Trânsito: na primeira semana que estava valendo ela foi pega dirigindo moto sem habilitação e perdeu a carteira de motorista de carro por causa disso. Virou piada por uns seis meses, a coitada.

Mas aí chegou o carnaval de 2000 e a Camila conheceu o Márcio. Ele era lindo e ela surtou por causa dele. Quando se beijaram pela primeira vez ela quase desmaiou, de verdade. Começaram a namorar rápido e dois meses depois estavam noivos. Desde aquele dia, que eu passei na loja que ela trabalhava e ela me contou a novidade, ela começou a ficar distante.

O noivo dela era extremamente ciumento e não deixava ela sair sem ele. E ela, pro meu espanto, abaixou a cabeça. A Camila parou de sair, parou de ligar, praticamente apagou. Ficou na saudade de todo mundo. Todo mundo que se lembrava dela tinha um pouco de saudade na voz. A última vez eu a vi foi no baile de formatura da minha irmã, no final de 2002, em que ela pulou na minha frente, me abraçou e disse que sentia muita saudade. Disse que ia casar e que fazia questão que eu estivesse lá no dia. Quando ela me perguntou o que eu andava fazendo, despejei meu trabalho, meu affair no momento. Quando eu perguntei o que ela andava fazendo, ouvi um insólito "Nada. Me preparando pra casar". Sem estudar e sem trabalhar por escolha própria. Estranho, principalmente se tratando da Camila.

No meio do ano passado encontrei a Cris na farmácia e ela me contou que a Camila já estava casada e não convidou ninguém que fazia parte da turma do colégio. Fiquei chateada por não ter sido convidada, mas fiquei ainda mais chateada por ela: é ótimo encontrar um amor, ficar com ele e ter chances de isso ser pro resto da vida. Mas ela se anulou, esqueceu os sonhos que tinha pra parar de trabalhar, de estudar. Casar e continuar vivendo na casa da mãe.

A Camila, aquela minha amiga, ficou lá atrás, no século passado, onde eu nunca mais vou achar.

...

No sonho dessa noite ela estava dançando, a gente devia estar na Cyclone em Taubaté. Ela estava com uma barriga linda, aguardando a chegada da Amanda (o nome que ela sempre quis dar pra filha). Não tem como saber se é verdade, talvez seja. Mas é bom lembrar que no sonho ela tinha 17 anos, o sorriso era o mesmo e mesmo que eu tenha certeza que nossa amizade nunca mais voltaria a ser a mesma, é bom saber que ela existiu.

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Começar de novo sempre é bom.

Os dias ficam diferentes e, principalmente eu, você.

Você pára e pensa que com o trabalho novo, aquela oportunidade que você esperou a vida inteira, também te mostra o fato de que as chances de você reencontrar aquela chefe doida que precisa de terapia mais do que você são praticamente nulas. Esquecer a voz dela se torna um desejo real e fácil de alcançar.

Novo trabalho, novo caminho, novo horário, tudo novo. Como se eu estivesse nova.

O trabalho assusta um pouco, é muita coisa pra fazer, muita coisa pra lembrar, muito detalhe que se for esquecido ferra com tudo. Mas é questão de tempo - e o que não é? - e aos poucos eu vou me acostumando e tudo fica mais fácil.

Assim os dias passam e eles me dão prazer. As vezes lembrar de algumas coisas ainda doem, enchem de saudade e vazio. Hoje meu amigo perguntou como estava meu coração. - Oco, eu respondi. Mas eu não reclamo não. Cansei de reclamar, reclamar enche o saco. Meu e dos outros.

Quando você pára de colocar pessoas à sua frente você consegue ver tudo bem melhor.

terça-feira, fevereiro 10, 2004

Tem como achar a vida entediante?

Por falar em empregos, vamos recapitular:

1) Escola Infantil "Meu primeiro degrau" - Pindamonhangaba - 1995
Eu dava aulas de ballet (!!!) para meninas de 4 a 6 anos. Era divertido.

2) Tutti Quanti Sorveteria - Pindamonhangaba - 1996/1997
Trabalhei durante os finais-de-semana do verão nessa sorveteria. Aprendi a fazer milkshake e banana split que nem gente. E muito sorvete de graça. Tem coisa melhor para uma menina de 15 anos?

3) InfoNews Computação - Pindamonhangaba - 1998
Eu era recepcionista dessa escola de informática do tamanho de um ovo. Foi desastroso! Saí de lá sendo chamada de incompetente. A escola faliu três meses depois.

4) Yes Computação - Pindamonhangaba - 1998
Eu era divulgadora nessa escola que meu pai foi responsável por um tempo. Eu não fazia porra nenhuma. Aprendi a jogar campo minado como ninguém.

5) União Nacional dos Estudantes - São Paulo - 1999
Foi bacana, a UNE. Primeiro estágio, conheci um monte de gente bacana, inclusive o Fidel Castro. Os dias no Congresso da UNE, naquele ano, que eu ajudei a fazer a parte de comunicação, estão entre os mais divertidos e inusitados da minha vida.

6) USS - São Paulo - 1999 / 2000
Durante oito meses eu gargalhava diariamente. Trabalhei como operadora de telemarketing, das 6 da manhã ao meio-dia, saía pra balada na sexta e ia direto trabalhar no sábado. Conheci muita gente interessante, cheia de competência e tendo que se virar numa central de atendimento. Ótima experiência.

7) Interscience - São Paulo - 2000
Fazia pesquisa de mercado por telefone. Ainda bem que só durou um mês.

8) Intermanagers - São Paulo - 2000
Foi O emprego. O melhor chefe do mundo, o melhor trabalho, onde eu aprendi tudo o que eu sei como profissional, o melhor ambiente possível e um nó na garganta de saudade. Grandes amigos até hoje. Queridos mesmo. E poxa, tinha o Rodrigo né...

9) SurfTrade - São Paulo - 2000
Um tédio. Duas semanas que levaram dois anos pra passar.

10) Zip.Net - São Paulo - 2001
Legal trabalhar com um jacaré de plástico gigante ao lado. Foi interessante, mas não fiquei triste quando 99,99% dos funcionários, inclusive eu, fomos mandados embora. Era foda trabalhar de domingo e putz, sabe aquela mega-rebelião do PCC? Eu tava sozinha na redação. Trauma.

11) Rede SACI - São Paulo - 2001 / 2002
Era um projeto financiado pela USP pra portadores de deficiência. No começo foi legal, mas o stress no final atingiu níveis estratosféricos.

12) Martins Fontes - São Paulo - 2002 / 2003
Descobri que o diabo existe e é dono de uma editora. Vi o maluco colocar funcionário de castigo e sumir pra Ucrânia como se fosse ali na esquina. Alívio total quando eu fui demitida (eu era registrada né).

13) Editora Abril - São Paulo - 2003
Trabalho em duas fases e bem bacana. Falava mais besteira do que trabalhava, tomava dois litros de café por dia e encontrei uma baratinha na comida no restaurante ao lado.

14) Antônio Ximenes Comunicação - São Paulo - 2003
Mala sem alça de primeira linha. Três semanas e eu saí correndo.

15) SmartClick - São Paulo - 2003
Legal no começo, um saco no final. Mas tinha as minhas amigas. Elas não me deixaram surtar antes da hora.

16) EPR Comunicaçãoo - São Paulo - 2003 / 2004
A melhor equipe de trabalho depois da Intermanagers, mais uma chefe maluca. Foi divertido, mas definitivamente eu odeio assessoria de imprensa.

17) Valor OnLine - São Paulo - 2004
Começo amanhã.

Imagina, assim:

Que você é jornalista e já teve um milhão de empregos na vida. Todos eles te enchiam rápido demais porque você não conseguia fazer o que queria de verdade.

E você, quando falava que gostava de economia (mesmo que odeie matemática) na faculdade você via em algumas pessoas um semblante de "coitada, é doida".

E aí você fez de tudo mas sempre estava procurando outra coisa. Sempre sabendo que você podia fazer bem mais, poderia fazer algo que te desse tesão. Tesão de trabalhar, bom isso.

Aí um dia você tem vontade de mandar sua chefe neurótica (como a maioria dos outros) pro inferno, sai batendo o pé e quando vê tem uma mensagem de voz no seu celular.

Ho ho ho.

E você acaba sendo chamada pra trabalhar na versão online do maior jornal de economia do país.

...

Pois é. É exatamente assim que eu estou neste momento.

E no final das contas tudo terminou bem.

E hoje apareceu o sol e minha conta bancária não estourou e hoje o espelho foi legal comigo.

Não tive medo no final-de-semana, pois só percebi o perigo que ela, minha mãe, correu depois que ele já tinha ido embora.

Pois é, ela teve que ser operada de novo devido à uma incompetência de dois centímetros no abdome dela. Um risco tão grande que até agora dá medo de falar o tamanho dele.

Ela está em casa e daqui a pouco vai estar 100% de novo.

Pra gente ficar bem e calmo no domingo à noite ela não deixou transparecer o medo que estava sentindo em entrar na sala de cirurgia de novo.

Eu não conseguiria fazer isso.

Quando eu crescer eu quero ser igual a ela.

sábado, fevereiro 07, 2004

A tua saudade corta como aço de navalha.

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Pra quem estava ligado na história da minha mamãe, informo que a cirurgia rolou hoje de manhã, foi tudo bem, ela já está no quarto e amanhã estará em casa, já.

Valeu, torcida.

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

(Entendendo porque a minha vida é mais completa com o Messenger)


Situação 1:

Wagner diz:
Bom saber que vc sobreviveu. Noé foi visto na Av. Paulista. Vc entrou no barco dele?

Carol diz:
não sobrevivi. na verdade meu espírito extremamente evoluído consegue digitar no computador, ele ainda não entendeu que fez a passagem.

Wagner diz:
Ah, conte-me como é o além.

Carol diz:
não tem muita graça, mas você pode comer pão na chapa sempre que quiser.

Wagner diz:
Cascatas de mel? Virgens em roupas diáfanas?

Carol diz:
tem mulher. mas vc sabe, hoje em dia não confie na virgindade de ninguém.

Wagner diz:
Droga. E as festas? Como são as surubas intermináveis? Ou isso será no inferno?

Carol diz:
ainda não cheguei nesse estágio mas dizem que são abertas ao público, tanto céu quanto no inferno. o negócio é forte... porque você acha que os anjos passam o dia sentados em nuvens?

Wagner diz:
Para curar a ressaca?

Carol diz:
Não. porque nuvem é macio. não dói.

Wagner diz:
Ah, excelente observação.

Carol diz:
experimentarei.

Wagner diz:
Ótimo. Descreva-me em detalhes depois. E não se esqueça de me apresentar às supostas virgens quando eu chegar.

Carol diz:
vai achando que são virgens mesmo e teras uma decepção. algumas chegam até a cobrar que tão experientes que são

Wagner diz:
Mas então o paraíso é parecido com a terra. Já sei, você está é no Paraíso que fica no início da Av. Paulista.

Carol diz:
Auahasuhasuahsuas
Não. estou no céu mesmo, aquela coisas, tears in heaven e tal.

Carol diz:
sabe qual é a maior diversão aqui? execução de joselitos.

Wagner diz:
Céus! Deve ser algo interminável.

Carol diz:
mas extremamente divertido e eu já tive acesso a uma lista bem interessante

Wagner diz:
Lista?

Carol diz:
Sim. de joselitos.

Wagner diz:
E como eles são executados?

Carol diz:
vc escolhe: choques elétricos, pagode por três meses consecutivos, castigo de falar como escrevem em seus blogs...

Wagner diz:
A xxx está nessa lista, não?

Carol diz:
óbvio que está. pessoas aguardam ansiosamente por ela.

Wagner diz:
Eu perguntava se eu podia ficar com a xxx quando eu chegasse.

Carol diz:
conversei com os caras aqui e eles falaram que sim. o que vc vai fazer?

Wagner diz:
Ela merece coisas bem ruins. Eu colocaria ela numa sala eternamente com Os Travessos, mas ela é capaz de gostar.

Carol diz:
ela pode achar alguma coisa bonita na letra

Wagner diz:
Droga. Já sei! Sexo. Ela não gosta de sexo. Mas quem iria querer fazer sexo com ela?

Carol diz:
se ela entrar na suruba sai virgem do mesmo jeito

Wagner diz:
Droga. Então fique vc com ela. Não serve nem para ser torturada pela eternidade.


Situação 2:

Carol diz:
bom dia!

Dani diz:
oi mafalda, tudo bem? ganhei um papagaiao agora te contei?

Carol diz:
não!!!!

Dani diz:
ele fala oi, bom dia e late!

Carol diz:
Ahaahahahahaha

Carol diz:
que barato!

Dani diz:
ele só tem um aninho!

Dani diz:
vamos construir uma casa para ele. bem grande. ahhh ele dá risada que nem velha!

Carol diz:
ele fica onde?

Dani diz:
na minha vó!

Dani diz:
meu cahorro não gosta dele e fica o dia inteiro olhando para ele e quando vamos cuidar dele meu cachorro começa a latir e ele late junto

Carol diz:
deve ser muito engraçado

Carol diz:
como vc ganhou ele?

Dani diz:
de um rpaz que trabalha aqui. mas não posso viajar com ele!

Carol diz:
pq não?

Dani diz:
pq não é registrado
se pegar a gente com ele é crime inafiançável (ou inafiansável?)

Carol diz:
o primeiro.

Carol diz:
ah tá, entendi

Dani diz:
valeu! minha tia acabou de ligar e disse que ele acordou cantando uma música mas não soube decifrar

Carol diz:
pagode? rock? forró? clássico?

Dani diz:
sei lá? ja pensou se for pagade? samba? ! pro falar nisso vc vai passar o reveillon aonde?

Carol diz:
REVEILLON?

Carol diz:
não seria carnaval?

Dani diz:
é !

Dani diz:
to doida.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

Pronuncia: Karorina

Água em meio à terra

E o círculo de cabeças pensantes decentes e divertidas no Brasil ficou mais reduzido na madrugada de hoje. E essa vida ficou um pouquinho mais besta, de novo.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho
Como um conde falando aos passarinhos
Como Bumba-Meu-Boi sem capitão

E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o prumo e desatina
Como sol no meio da multidão

Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinho
Cruzei mares, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contra-mão

Pelo canto da boca um sussurro
Fiz um canto doente, absurdo
Um lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão

Solidão...



(by Alceu Valença)

domingo, fevereiro 01, 2004

Já não se encantarão meus olhos nos teus olhos,
Já não se adoçará junto a ti minha dor.
Mas por onde eu vá levarei teu olhar
E por onde caminhes levarás minha dor.


...

- Foi a melhor coisa que você podia fazer.

Não tinha outro jeito. No final das contas, eu não tinha outra escolha. Até tinha: fugir. Fingir que não precisava acabar do jeito que acabou.

E acabou.

Estranho que fui eu quem fiz isso. Peguei o telefone e encerrei uma história que já começou errada, errada como tanta coisa na minha vida. Errada e gostosa. Errada e envolvente. Errada e falida.

Errada.

O homem mais encantador que já cruzou o meu caminho. Que foi diferente. Diferente em tudo, nos mínimos detalhes, bons e ruins. Os olhos mais bonitos que eu já vi, que me levaram pro céu e pro inferno, sem meio-termo, sem anestesia, sem beijo de boa-noite. Mas com vozes e beijos e momentos e tanta coisa boa que fica dífícil acreditar que era a mesma pessoa.

Comecei a falar tudo. Tudo o que eu sabia a tanto tempo e doía tanto ver que era verdade. Tudo o que eu sabia que tornava tudo impossível. Tão apaixonada que eu achei que poderia ser diferente.

Mas você me disse que não ia mudar. Nem por mim.

Nem por mim.

Então pedi pra você continuar com a sua vida satisfatória, etílica e sem propósitos, mas eu não ia poder fazer parte disso. Eu não ia querer fazer parte da tua decadência.

Fiz isso porque eu amo você. E amo tanto que não posso ver você assim, se acabando sem notar que já faz tanto tempo que você tinha que ter mudado. Sem notar que toda a sua beleza e tudo que você tem de bom está acabando por muito mais que uma noite numa mesa de bar.

Você é tão lindo, eu gosto tanto de você mas não tinha como ser diferente.

Mas o que adianta saber que foi melhor assim se dói tanto? Se a iniciativa saiu de mim, na hora certa, do jeito certo, pelo menos eu não deveria estar assim. A certeza da razão não é nada nessas horas.

Mas você não vai mudar. Por nada. Você vai se destruir dia à dia, todas as noites e eu não quero estar perto pra ver isso.

Dói, mas foi melhor assim. E dor passa mas você tem que vivê-la pra ela ir embora. Não se pode fugir, tem que sentir todos os segundos, cada gota. Sem covardia e sem ninguém fazer isso por você. Sinta tudo, amor, ódio, saudade, tristeza. Prazer quando a dor vai embora. Alívio. Começar de novo e até fingir que não quer de novo. Porque amor dói, sacrifica, detona. Mas são coisas assim que te fazem sentir viva. Inclusive a dor.

Mas agora isso não faz a menor diferença. Porque, no saldo final, eu saí sem mais um pedaço. Talvez o melhor, talvez o pior, quem sabe? O fracasso não foi meu, entrei em uma história que já estava errada a tanto tempo.

E talvez ela me torne ainda mais errada, talvez mais madura. Mas agora eu não quero mais nada.